Localidade do artista

Maranhão

Nico

Raimundo de Jesus Aroucha Mendes nasceu e cresceu em Viana, MA. É um dos fundadores da Associação Folclórica Urubu Vianense. Seu trabalho é bastante sofisticado e pode ser facilmente identificado. Confecciona queixos que apresentam presas enormes, feitas de espinhos cônicos da árvore chamada Sumaúma ou Barrigudeira. Especializado na confecção de máscaras de Cazumba, e ele próprio um participante, desde os 12 anos, diz que o personagem “tem um gingado que faz mexer os quartos (quadris), os braços, a cabeça, os pés, o corpo todo - a gente inventa”. Diz que quando era pequeno tinha medo dos Cazumbas, que atribui ao fato de ter sido criado pela avó. Maria Mazzilo, em pesquisa de 2005, ouviu do artista: Eu olhei um cazumba por lá e disse: Vó, tá lá um cazumba. Ela disse: Tu não é cazumba também? Mas eu tenho medo! Eu era um cazumba que tinha medo do outro. Só que o cazumba era meu tio e ele disse: Voce tem que se acostumar coma gente.” Segundo Moana Beuque, seu personagem transita entre a “ordem” e a “desordem”, provocando o público com pequenas transgressões jocosas. Relata que a primeira indumentária que criou para o personagem era muito simples: não impressionou ninguém. Então, no ano seguinte, resolveu fazer uma “bata” caprichada e quase não acreditaram ter sido feita por ele. Sabe-se criativo e tem consciência de seu talento: “eu não copio coisa dos outros, eu sou criativo, eu invento as coisas, se alguém quiser inventar as minhas coisas é problema deles lá...”. Seu temperamento alegre tornou sua casa um ponto de encontro dos brincantes. Contador de histórias, engraçado, diverte-se e alegra a todos durante o período festivo. “Eu me sinto feliz de brincar, de participar. Eu conto piada que até deus se admira. Onde chego sou conhecido, se chamar, José Joaquim Aroucha ninguém sabe quem é. Mas Nico, sou eu mesmo.” Em 2008, em entrevista a Juliana Manhães, aponta a ênfase nos “brilhos” como uma mudança na própria brincadeira: “cazumba brincava, era graça, era pra se divertir. Hoje é mais luxo, não tinha essa roupa bordada, esse brilho todo. Hoje cada um quer ser melhor do que o outro, tem gente que passa quase o ano todinho se aprontando pra brincar esses oito dias, na baixada são oito dias.” Irreverente, brincalhão e risonho, o artista pretende enganar até a morte: “Sou nascido e criado em Viana. Tô vivendo aqui até daqui a cento e cinco anos e se a morte resolver me procurar eu digo: Vai-te embora que não é eu!”

Referências

COSTA, Maria Mazzillo. Careta de Cazumba. 1. ed. Rio de Janeiro: Associação Cultural Caburé, 2005. v. 1. 160p .

MANHÃES, Juliana Bittencourt. Memórias de um corpo brincante: a brincadeira do cazumba no Bumba-Boi Maranhense. Dissertação (Mestrado no Programa de pós graduação em Artes Cênicas, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, 2009.

VAN DE BEUQUE, Flora Moana. Entre a roda de boi e o museu: um estudo da careta do Cazumba; 2010; Dissertação (Mestrado em Programa de pós-graduação em sociologia e antropologia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2009.

MUSEU DO PONTAL - Filme “Artistas Cazumbas” – parte das atividades de pesquisa do Museu Casa do Pontal, realizado ao longo de 2018. O filme documenta e registra um dos principais polos de arte popular do país, que inclui a capital São Luís e a baixada maranhense (MA).

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